terça-feira, abril 12, 2005

Leituras - Livro dos Dias

Acabei de ler o Livro dos Dias e, sim, é tão mau como parecia. Terminada a leitura, o que lamento não é que o personagem principal não tenha tido melhor sorte, mas sim que não tenha tido melhor história, quer a sorte fosse melhor ou pior.
Aos erros ortográficos e de tradução, bem como às omissões de palavras, e aos erros nas datas, juntou-se ainda a própria inverosimilhança do relato. Alguém acredita que um soldado em guerra possa escrever o seu diário no fundo dum fosso, entre os cadáveres, no meio do combate? Que do mesmo diário constem diálogos em que constantemente se descrevem pormenores do tipo "fulano cofiou o bigode", "sicrano levantou o sobrelho e olhou-me enquanto palitava os dentes"? Mas não falta o tempo para escrever?! Estamos na guerra, que diabos! Quem é que liga a esses pormenores ao ponto de os anotar no seu diário? E depois há as incongruências básicas - não me posso esquecer da imortal sequência:
Dia Dezanove de Outubro
Hoje atingo a idade de trinta e três anos [...]. Para assinalar o dia convidei Yasmin a assistir comigo a uma missa cantada na catedral.
[...]
Raramente apreciei tanto uma ceia como a nossa naquela noite (qual noite? esta, ou já acabou? ainda estamos a dezanove de Outubro ou quê?!).
[...]
Pareceis tranquilo, Effendi. - Admiti que estava. - Fico satisfeito - disse -, mas, perdoai-me, não rezais esta noite?
Disse-lhe que o faria, e depois de ele sair, levando a vela, sussurrei o nome dela na escuridão. E adormeci. (ai sim? curioso, então como é que escreveste isto?! ainda por cima na escuridão...)

Por fim, fiquei claramente com a sensação de que se estava a acabar o papel, não ao personagem, que certamente o teria em pouca quantidade (mas que desperdiçava em descrições...), mas ao escritor, que devia ter que entregar o livro. Subitamente, falta (ao personagem? ao escritor?) tempo e vontade para escrever. A história acaba num abrir e fechar de olhos - uns moralismos à pressão, e é tudo. Pressão da editora? Oh, abençoada! Que alívio! Venha o próximo livro...

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