segunda-feira, maio 16, 2005

Leituras - História de Roma

Sobre a Roma epicurista (cerca de 100 d.c.), uma descrição que ajuda a pôr em perspectiva a nossa própria realidade:

O matrimónio, que na época estóica fora um sacramento e voltará a sê-lo na cristã, era agora uma aventura passageira; e a criação dos filhos, considerada em tempos um dever para com o Estado e para com os deuses, que prometiam uma vida ultraterrestre apenas a quem deixava alguém a olhar pelo seu túmulo, agora era considerada um aborrecimento, um empecilho a evitar. O infanticídio já não era permitido, mas o aborto era prática comum, e, se não resultava, recorria-se ao abandono do recém-nascido aos pés de uma coluna lactária, assim chamada porque estavam ali de guarda amas-de-leite, pagas propositadamente pelo Estado, para aleitar os enjeitados.Sob a influência destes costumes, a própria estrutura biológica e racial de Roma sofrera uma mudança. Qual o cidadão que não tinha nas suas veias algumas gotas de sangue estrangeiro?A mãe romana que decidia pôr um filho no mundo, só se fosse mesmo muito pobre é que não se desembaraçava dele imediatamente, confiando-o primeiro a uma ama para o aleitamento, e depois a uma perceptora grega [...].

E sobre Antonino, o trecho magnífico abaixo. Como seria o nosso país com políticos assim?!:

O título de «Pio» foi dado a Antonino a posteriori pelo Senado, que lhe chamou também Optimus princeps, o melhor dos príncipes. [...] Este homem sem inimigos, teve um em sua casa: sua mulher: Faustina era bela e, no mínimo vivaça. [...] Quando Faustina morreu, instituiu em sua honra um templo e um fundo para a educação das raparigas pobres, depois de a ter repreendido uma única vez na vida: quando ela, ao saber-se imperatriz, fizera algumas exigências de luxos. «Não percebes», disse-lhe, «que agora perdemos aquilo que tínhamos?».Não se tratava de retórica, porque o primeiro gesto de Antonino como imperador foi depositar a sua imensa fortuna nos cofres do Estado. Quando morreu, o seu património pessoal estava reduzido a zero, e o do Império elevava-se a dois biliões e setecentos milhões de sestércios, quantia jamais atingida.

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