domingo, novembro 29, 2009

Leituras - O meu nome é legião

É o primeiro livro que leio de António Lobo Antunes. Vinha com grandes expectativas. Não foram defraudadas. O livro não é bom. O livro não é óptimo. O livro é uma experiência. É como andar de carrossel. É como ver um filme 3D com aqueles óculos esquisitos, ou com os novos, menos esquisitos. É como um bom efeito stereo, arrancando-nos à nossa realidade real para nos levar a visitar uma outra, cujos sentidos nos indicam estranhamente não ser menos real. É um rapto de consciência, é tirarem-nos a cassete que temos na cabeça e substituirem-na por outra, e agora quem sou eu, tu talvez? Tu és agora eu e escreves este texto quando antes o escrevia eu e olhas para as tuas (minhas) mãos sobre o teclado e já não estou a ler, estou a escrever, mas este blogue afinal é meu ou não é, sou louco por escrever assim, que digo, escrever, pois se estou a ler, ou é a minha leitura que produz o texto à medida que o vou lendo, e apesar de as palavras já estarem escritas um pouco à frente? E se parasse agora de ler será que as palavras desapareceriam, estou louco, isto já foi tudo escrito por outra pessoa, e a prová-lo estão estas outras ideias que percorrem a minha mente e que não constam do texto.

Bem, espero ter conseguido produzir um artifício que humildemente (fica bem ser humilde) vos desperte (a mim?) a curiosidade de ler este livro.

***** (5, CINCO estrelas)

Leituras - Crónicas dos átomos e das galáxias

Este livro de Huber Reeves é uma espécia de cosmologia in a nuthsell, consistindo de uma sucessão de pequenos capítulos sobre uma miríade de questões essenciais de astronomia, física, etc. Do infinitamente grande ao infinitamente pequeno.

Não me entusiasmou por aí além, mas é um bom livro ao qual voltar como referência, ou como pontapé de saída em grande para quem se começa a interessar por estas questões.

Leituras -Carta sobre a felicidade e Da vida feliz

Editadas conjuntamente pela Biblioteca de Editores Independentes, a Carta sobre a felicidade de Epicuro e Da vida feliz de Séneca são uma boa leitura. Atrasei-me mais uma vez no meu comentário, uma vez que já as li há uns meses... tempus fugit!

Sem querer vender as ideias ao quilo, devo dizer que me senti meio ludibriado por concluir que a carta de Epicuro ocupa aí uns 7% do livro, com boa vontade. Ainda assim, interessante q.b.:
Assim, o mais temível dos males, a morte, nada tem a ver connosco: quando somos a morte não é, e quando a morte é somos nós que já não existimos!
Séneca está mais bem representado, com o remanescente que o Prefácio concedeu ao livro. Vale realmente a pena ser lido, e aqui fica uma perolazinha:
Se um desses individuos que ladram contra a filosofia vier repetir-me o seu refrão costumeiro: «Porque é que és mais corajoso nas palavras do que na vida? [...]»
Agora vou responder-te: «Não sou um sábio e [...] não o serei nunca. Exige, pois, de mim não que seja igual aos melhores, mas que seja superior aos maus; é bastante para mim diminuir todos os dias um pouco dos meus defeitos e repreender os meus erros. Não alcancei a cura e nunca serei capaz de o fazer; [...] mas, na verdade, se comparo as minhas pernas com as vossas, ainda que débil, sou um corredor.»