segunda-feira, novembro 15, 2010

Aristóteles tem a Natureza de Buda?

“Considero aquele que consegue vencer os seus desejos mais corajoso do que aquele que consegue vencer os seus inimigos.”

Aristóteles

sábado, setembro 11, 2010

Leituras - Grandes Batalhas: Maratona 490 a.C.

Sempre interessado pela História militar, não resisti à tentação de adquirir a nova colecção da Osprey Publishing, numa iniciativa do jornal Correio da Manhã. Por um pouco menos de oito euros por exemplar é possível adquirir, em formato de capa dura, o relato de algumas das mais importantes batalhas da Humanidade. Tive a oportunidade de confirmar que, em Espanha (estivemos recentemente em Barcelona), exemplares avulso da Osprey custam sensivelmente o mesmo preço, mas em capa mole. Assim, não sendo uma absoluta pechincha, é, ainda assim, atraente.

O primeiro volume, sobre a batalha de Maratona, entre gregos e persas, deu uma leitura agradável. Mas, no meu caso, é o tipo de livros que podem acabar por ficar na prateleira, se não me resolvo a correr o risco de os levar para os transportes públicos - realmente, quase não consigo encontrar disposição para ler em casa.

P.S.: Devo chamar a atenção dos caríssimos leitores, mas sobretudo da editora, que a tradução está sofrível, havendo situações capazes de gerar verdadeira perplexidade no leitor. Por exemplo, é referido o facto de um escudo ter sido usado como uma enxada, no famoso episódio do sinal do escudo, quando de facto terá sido usado como um espelho. Duvido sinceramente que o original inglês falasse de algum tipo de enxada, mas algures no retorcido caminho das traduções e re-traduções algo de crítico se perdeu. Recordo que, em edição de colecção análoga relativa à Segunda Guerra Mundial, ao que parece a tradução terá sido realizada a partir da tradução espanhola, e não do original inglês, conduzindo na altura a várias gralhas.

Leituras - O Senhor dos Anéis - As Duas Torres

À noite, normalmente já com o Martim deitado, prossegue a nossa leitura (tipicamente eu leio em voz alta) de O Senhor dos Anéis. Vamos no segundo volume, As Duas Torres, e já perto do fim.
Gollum, gollum!

Leituras - O Infinito na Palma da Mão

Finalmente tive a oportunidade de ler (essencialmente durante as férias na Madeira) um livro de Matthieu Ricard, co-autor com Trinh Xuan Thuan. Nas próprias palavras do livro, trata-se de "O diálogo esclarecedor entre um cientista convertido ao budismo e um budista que optou pela carreira científica". Gostei bastante do livro, embora considere que para uma apreciação adequada é requerido um grau importante de conhecimento científico e da doutrina budista, sob pena de se poderem fazer interpretações indevidas. Isto porque o livro é muito abrangente e alguns assuntos, ao serem dicutidos de forma necessariamente superficial, podem enfraquecer a validade das conclusões, por falta de fundamentação. Ou seja, por vezes senti que havia alguns "saltos" nas conclusões que a argumentação expressa poderia não suportar. Todavia, é um óptimo livro para servir como base a uma exploração pessoal. Uma publicação da Casa das Letras.

O livro faz uma citação perfeita de William Blake a propósito do seu tema central:
Ver um universo num grão de areia,
E um paraíso numa flor selvagem,
Conter o infinito na palma da mão,
E a eternidade no tempo de uma hora.
No original...
To see a World in a Grain of Sand
And a Heaven in a Wild Flower
Hold Infinity in the palm of your hand
And Eternity in an hour

... que, por curiosidade, foi a óbvia inspiração de Sting para:
Finding the world in the smallness of a grain of sand
And holding infinities in the palm of your hand
And heaven's realms in the seedlings of this tiny flower
And eternities in the space of a single hour

Leituras - Dez Lições sobre o Budismo

Da Editorial Presença, Dez Lições sobre o Budismo de Giangiorgio Pasqualotto foi uma feliz surpresa, proporcionando uma introdução excelente ao Budismo e mantendo o interesse mesmo para os que, como eu, já não procuram exactamente uma introdução ao tema. Recomendo vivamente.

quarta-feira, junho 09, 2010

Leituras - Mais Rápido que a Luz

Com o subtítulo Biografia de uma Especulação Científica, este livro do físico português João Magueijo poderia ser interpretado como uma bofetada de luva branca nas cúpulas burocráticas da comunidade científica, quando, na verdade, se trata de uma sucessão de socos no estômago. Com uma linguagem a que alguns gostariam de poupar as senhoras, bate com força onde doeria mais (se os alvos estivessem capacitados para sentir tal dor). Sem perdão.

Criador e estudioso de uma Teoria da Velocidade da Luz Variável, relata neste livro as peripécias resultantes do atrevimento de pôr Einstein em dúvida. De caminho, abre horizontes a novas concepções do Universo.

Editora? Brincam, com certeza. Gradiva, claro.

Leituras - O Fim do Mundo Está Próximo?

Mais uma publicação da Gradiva - esta editora é realmente sinónimo de qualidade! Na sequência de uma série de sessões sobre Matemática que o Professor Jorge Buescu apresentou na empresa onde trabalho (são estes momentos que me fazem realmente sentir privilegiado de lá trabalhar), e aproveitando o embalo, li numa penada este livro do Professor (na verdade já terminei há umas semanas). Apresenta interessantes questões matemáticas de forma atraente e acessível, com a ajuda de um humor inteligente, pelo que constitui uma leitura agradável e motivante, a saber a pouco. Por isso mesmo já tenho comigo os seus dois outros livros: O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias e Da Falsificação de Euros aos Pequenos Mundos. Escusado será dizer qual é a editora.

sábado, abril 17, 2010

Leituras - Never Tell Too Plainly

Contrariando a tendência habitual de mencionar aqui neste blogue os livros que ando a ler, vou mencionar dois artigos que encontrei relativos ao Budismo Zen.

O primeiro é um estudo interessantíssimo sobre o método de comunicação utilizado pelo Budismo Zen:

The Pragmatics of ‘Never Tell Too Plainly’: indirect communication in Chan Buddhism
Youru Wang, Philosophy Department, The Chinese University of Hong Kong, Shatin, NT, Hong Kong
Asian Philosophy, Vol. 10, No.1, 2000

http://www.thezensite.com/ZenEssays/Philosophical/Never_Tell_Too_Plainly.html


O segundo, parece-me explicitar maravilhosamente a essência do Zen (numa abordagem explicativa em contradição com o descrito no artigo anterior?... ou talvez não):

Actualizing the Fundamental Point (Genjo-koan)
Written in mid-autumn, the first year of Tempuku 1233, and given to my lay student Koshu Yo of Kyushu Island. {Revised in} the fourth year of Kencho {I252}.
http://www.thezensite.com/ZenTeachings/Dogen_Teachings/GenjoKoan_Aitken.htm

Leituras - O Silmarillion e O Senhor dos Anéis

Como pano de fundo de outras leituras, ando a reler o Silmarillion, em inglês. Normalmente, leio no comboio. Em casa, à noite, e porque o Martim assim insistiu (não, não fui que lho impingi, pelo menos não directamente) andamos a ler O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel, em português, naturalmente. A tradução é algo fraca, temos apanhado vários erros ortográficos e nem sempre fico agradado com as traduções de nomes e lugares. Um aviso à navegação, portanto: não há como ler o original. Nestes livros, a sonoridade das palavras tem uma importância fundamental, e há poemas, canções. Em tudo isso se perde detalhe precioso, a alma do original.

domingo, abril 04, 2010

Leituras - How to See Yourself As You Really Are

Este livro, da autoria do Dalai Lama, é simultaneamente uma preciosa referência sobre a essência da visão budista do mundo e um manual prático de meditação. Assim, do ponto de vista prático, é precioso. Do ponto de vista literário, esqueçam. É muito redundante, é como um livro de receitas. O propósito não é ser uma leitura agradável, dar uma boa distracção. O propósito é ensinar - e não se ensinam tabuadas sem alguma monotonia.

Entretanto, percebi a "tabuada" budista, julgo eu. Mas ainda não a sei de cor. Falta-me prática. E assim nunca serei bom a fazer contas.

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Em jeito de resposta a um comentário

Mário, só por uma questão meramente formal, uma vez que não é o cerne do seu comentário, permita-me dizer-lhe que acho que talvez não esteja a interpretar correctamente a intenção do António Gedeão. O poema não é, a meu ver, tanto sobre o bem e o mal, como sobre o livre-arbítrio em si mesmo. Penso que a ele, (como a mim, de resto) mais do que o cumprimento correcto e moral de uma noção colectiva ou até individual de bem e de mal, o que o preocupava era a hipótese - ou a certeza! - de que cada pretensa decisão que tomamos nas nossas vidas esteja absolutamente pré-determinada pelas leis da Física. Ou, alternativamente, mas não melhor, aquilo que eu penso: que ou estão mesmo pré-determinadas, ou se não estão, também não estão sob o nosso controlo, e dependem de alguma Grande - ou sub-atómica - Lotaria Universal. Mais do que o Bem e o Mal, da resposta a esta questão dependem grandes noções, como a da Liberdade Individual e da Responsabilidade, e as questões da Justiça. Eu não creio na Liberdade Individual, não creio na Moral. Não acredito na Culpa. Só acredito no castigo, com "c" minúsculo, o instrumento social, para fins sociais. Estou a falar destes conceitos nos seus sentidos absolutos, claro. Sei jogar ao jogo da vida, e da vida social, conheço as suas regras, e tento lidar com elas como toda a gente. Estou aqui a falar de dar um passo atrás, sair do tabuleiro de xadrez, deixar de ser uma das peças, levantar-me acima da mesa e olhar para o que se está a passar de fora do jogo, e ver que as regras só existem dentro do tabuleiro, e que a Realidade transcende o tabuleiro.

Enfim, voltando atrás... esta capacidade do António Gedeão para encaixar a nossa condição humana no seio da implacabilidade das Leis da Física encontrei-a eu no poema que se segue, o primeiro poema que me lembro de ser capaz de apreciar. No 8º ano, talvez?


Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.


Adianto desde já que estou bastante conformado com esta condição. Daí eu dizer que, se sou Materialista, não é por reduzir os Homens a calhaus, mas por elevar os calhaus a Homens. E parece-me tudo ser ainda mais belo do que se uma mão divina fosse responsável pelo Universo ("a mão que moldaria nas colinas", do Sérgio Godinho).

A sua interpretação do poema, que julgo portante diferente da minha, levou-o a uma incursão num terreno bem mais pantanoso para mim: o do Sentido da Vida. A sua bela frase ("Como se não bastasse ser lançados na planície, ainda nos foi dada a consciência da situação em que nos encontramos e daqui poder lançar o olhar em todas as direcções") introduz bem a questão. Quem não se questiona, uma vez na vida? E quando diz... "Não há um desígnio ou projecto que nos tenha sido dado para realizar. E se há, não temos notícia dele.", não podia concordar mais consigo. Mas é um vazio perigoso, reconheço. Sou um mau candidato a estar naquelas linhas de Apoio à Vida... se me aparece um suicida, não posso honestamente dizer-lhe mais do que... "A sério, vais dar um tiro na cabeça?... não é o meu estilo, eu sou mais daqueles tipos que vivem sem saber porquê, por vício. Um vício dos diabos. Tu não? Ok, olha, são feitios, não é? foi um prazer conhecer-te...". Queria poder dizer algo melhor ao meu filho: "Filho, vivemos para isto: . E faz sentido, vês, é óbvio, não é? É para isso que deves viver, guardar essa tua vida que para mim é preciosa, vive-a o melhor que puderes, sê feliz.". E é talvez isso que lhe vou dizer: "Sê feliz.". Nada mais parece fazer sentido. A não ser, talvez: "Busca a verdade. Encontra-a. Conhece-a. Vive-a.". Sim, talvez só a verdade seja melhor que a felicidade.

Por fim, não posso deixar a sua última pergunta sem uma resposta clara.
P: "Achas mesmo, Luis, que eu estou a tentar «iludir», «entreter», «impedir» a fatalidade? Ou só a contorná-la com razoabilidade?"
R: A um certo nível somos livres, claro. Como as bolas numa tômbola. Sabe-se lá onde vão parar? E as ondas do mar? Dão um trabalhão a simular, usando Computação Gráfica. O movimento é caótico, quem o poderia prever?... Bem, a resposta que tenho para si não é simpática: acho que ainda não se conformou com o facto de ser uma marioneta do Universo (Mário-neta?! O meu subconsciente devia ser internado!). Mas não sei se tem alternativa, eh eh. E eu não posso dizer-lhe outra coisa senão isto, por respeito à verdade. A sua saída é bastante razoável, mas só funciona, parece-me, na Realidade Convencional. O pior é conciliar a vida na Relidade Convencional com a percepção da Realidade Absoluta. E quase ninguém vive a Realidade Absoluta, só aqueles aos quais a maioria chama "alienados".

É tarde, e amanhã trabalho. Boa noite.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Poema do livre arbítrio

'Há uma fatalidade intrínseca, insofismável
inerente a todas as coisas e nelas incrustrada.
Uma fatalidade que não se pode ludibriar,
nem peitar, nem desvirtuar,
nem entreter, nem comover,
nem iludir, nem impedir,
uma fatalidade fatalmente fatal,
uma fatalidade que só poderia deixar de o ser
para ser fatalidade de outra maneira qualquer,
igualmente fatal.

Eu sei que posso escolher entre o bem e o mal.
Eu sei que posso fatalmente escolher entre o bem e o mal.

E já sei que escolho o bem entre o mal e o bem.
Já sei que escolho fatalmente o bem.
Porque escolher o bem é escolher fatalmente o bem,
como escolher o mal é escolher fatalmente o mal.
O meu lívre arbítrio
conduz-me fatalmente a uma escolha fatal.'


António GEDEÃO
Novos Poemas Póstumos, 1990


O homem disse tudo. Que vou eu dizer agora? Invejo-lhe a autoria do poema.